quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mulheres e Feminismo: direito à alteridade


“Não se nasce mulher: torna-se.” A instigante frase de Simone de Beauvoir foi publicada há 54 anos atrás, no sempre revisitado livro O Segundo Sexo. O vanguardismo das idéias de Beauvoir não perdeu seu significado para a mulher do século XXI, que cresce na ilusão de que não há não mais desigualdades de gênero a serem superadas. O que mudou desde Beauvoir é que o poder simbólico que mantém as amarras femininas é mais engenhoso, porque se constrói sobre a imagem da mulher que ocupa diversos espaços que foram exclusivos dos homens durante séculos. Em 2007, segundo dados do IBGE, as mulheres eram responsáveis por 18,5 milhões de lares brasileiros, ocupavam 57,5% das vagas no ensino superior brasileiro e avançavam no mercado de trabalho. A mulher dessa década supõe ter alcançado todos os direitos, superado as desigualdades e, consequentemente, julga que não há mais relevância no feminismo.
No entanto, a mulher brasileira normalmente não se identifica como tal, não percebe que é diferente da figura iluminista do homem universal e não consegue delinear sua identidade feminina, seu espaço na política, sua voz e sua atitude. Mistura-se com os outros e não reconhece sua subjetividade, mantém inconscientemente o conservadorismo dos valores que a subjugam e, contraditoriamente, torna-se a maior defensora do poder que a faz vítima. Não há espaço para a autonomia feminina enquanto a mulher não conseguir retirar o véu da ignorância que oculta e manipula seu real papel na sociedade feita pelos homens e para os homens. A mulher precisa ser protagonista de sua própria história e não mais o elemento secundário, da sombra que segue e sustenta o poder masculino. Somos “a outra” da história protagonizada pelos homens e procuramos em vão nos adequar a sociedade deles, sem questionar qual é o espaço que queremos, qual é o modelo de sociedade que responde as nossas demandas. Somos diferentes dos homens e não queremos ter nossos direitos subjugados pelo ideal masculino do direito e da sociedade.
Ser protagonistas de nossas histórias significa contribuir para a construção de uma sociedade que carrega o símbolo do feminino, mais fraterna, sensível e atenta aos outros e as outras. Ao lado dos homens, das crianças, dos idosos e idosas, é possível refletir e lutar por um mundo de inclusão, onde pensar e ser diferente não implica em exclusão, mas emerge do direito à alteridade, a ser respeitada e reconhecida nas suas diferenças

3 comentários:

  1. Muito legal o Blog. Parabéns! Espero novos posts.

    Ass. Rogério Cortina

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  2. Parabéns pela iniciativa do blog, Monica!
    Com certeza acompanharei sempre.
    Beijos,
    Maíra.

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  3. Parabéns Prof!! Adorei a idéia, precisamos mesmo de um pouco mais de cultura na internet, afinal, mulher não se resume em horóscopo, moda e beleza. Bjão. Sucesso!
    Deisi Innocenti

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