segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mulheres e Política na UNESC



Eu estava no segundo ano da graduação do Curso de Direito (meu curso era anual), quando ingressei na Chapa do Centro Acadêmico Carvalho Santos (UEPG/Ponta Grossa-PR), que concorreria às eleições de representação estudantil. Cronograma corrido: reuniões e mais reuniões, longas conversas, debates em corredores, diálogos com os membros da chapa contrária, muita dedicação na campanha. Três chapas concorrendo e ganhamos! Desde então até o fim do Curso de Direito, sempre estive ativa na representação estudantil. Aprendi muito. Bons tempos...
Como professora do Curso de Direito da UNESC há quase dez anos, assisto com satisfação as acadêmicas participando das chapas que concorrem às eleições do Centro Acadêmico. O Curso de Direito desenvolve a "veia política" de uma grande maioria de estudantes e não podia ser diferente com as meninas de hoje. Impressiona, no entanto, o fato das meninas serem sempre coadjuvantes oficiais nesse processo, mesmo já tendo estatura e experiência suficientes para concorrerem nas chapas como candidatas à presidência e/ou vice presidência do Centro Acadêmico Benedito Narciso da Rocha.
No Brasil a participação feminina na política continua reduzida. Mesmo diante do fato de que acabamos de eleger a primeira presidenta do Brasil, a realidade é que as mulheres têm ocupado um tímido e insuficiente espaço na representação política. Temos até cotas nos partidos políticos para incentivar essa participação, porém, ano a ano são poucas as mulheres que se aventuram na vida política partidária para concorrer a cargos eletivos e menos ainda as que conseguem sair vitoriosas desses pleitos.
A Câmara Municipal de Criciúma é exemplo local dessa lamentável realidade. Na atual legislatura há duas vereadoras no total de doze vereadores, número até significativo quando comparado ao da legislatura anterior, em que não tínhamos nenhuma mulher como vereadora.
Certamente uma das razões para esse déficit é que enquanto os políticos geralmente têm suas mulheres para gerenciar suas casas e cuidar dos seus filhos, as mulheres que fazem carreira política enfrentam mais dificuldades para cumprir a dupla (ou tripla) jornada de trabalho. Ainda mais quando se leva em conta que a carreira política exige tempo despendido em viagens, noites avançadas em jantares e reuniões, que traduzem longos momento de ausência para filhos e companheiros em casa. Quantos homens se disporiam a gerenciar os lares e cuidar dos filhos para que suas esposas/companheiras pudessem ser mais participativas na política partidária? Quantos homens aceitariam ocupar com o mesmo orgulho e disposição das mulheres a posição de "primeiro cavalheiro" de um município, estado ou até do país?
Remetendo ao post anterior, é preciso que as demandas femininas sejam conduzidas e refletidas por mulheres, que sejamos protagonistas na história de nosso país, de nosso município e também de nosso curso de graduação. Não podemos estar alheias à política, porque quer você queira ou não, é na arena política que são tomadas as decisões que comandam nossas vidas. Por isso a importância de que as mulheres também participem da política, seja em partidos, associação de moradores, conselhos municipais, que sejam engajadas nas eleições e que mais mulheres escolham seguir a carreira política.
Hoje o desafio das jovens mulheres é trazer a perspectiva feminina para a construção das pautas das políticas públicas, que sempre esteve atrelada e embutida no mundo masculino. Muitos alegam que sempre estivemos incluídas no Brasil estruturado politicamente por homens, mas poucas vezes fomos questionadas se estávamos contempladas no desenho das leis, das políticas e nas escolhas que resultaram no modelo de mundo em que vivemos.
Nesse viés, espero ver as jovens estudantes na disputa pelo cargo de presidente do CA do Curso de Direito da UNESC nas próximas eleições.
Da mesma forma, parabenizo a professora Rosângela pela coragem de ter aceitado a compor a CHAPA 1 junto ao professor Alfredo, para disputar as eleições para coordenador(a) e coordenador(a) adjunto(a) do mesmo curso.
Sem dúvida, a professora Rosângela está participando de uma importante página da trajetória do nosso curso, concorrendo na histórica primeira eleição verdadeiramente democrática para a coordenação, após quase 15 anos de funcionamento do curso. Jamais tivemos duas chapas concorrendo para a coordenação do Curso de Direito da UNESC e a única coordenadora de curso que tivemos não teve a oportunidade de ser eleita pelo voto da comunidade acadêmica, porque foi indicada para o cargo. Por isso a importância do momento em que vivemos, ímpar para podermos debater o curso que queremos.
As eleições se aproximam, dia 10/11 os(as) estudantes e professores(as) do curso de Direito terão a primeira oportunidade de escolher seus representantes. Reflita sobre as propostas e faça valer seu voto! 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mulheres e Feminismo: direito à alteridade


“Não se nasce mulher: torna-se.” A instigante frase de Simone de Beauvoir foi publicada há 54 anos atrás, no sempre revisitado livro O Segundo Sexo. O vanguardismo das idéias de Beauvoir não perdeu seu significado para a mulher do século XXI, que cresce na ilusão de que não há não mais desigualdades de gênero a serem superadas. O que mudou desde Beauvoir é que o poder simbólico que mantém as amarras femininas é mais engenhoso, porque se constrói sobre a imagem da mulher que ocupa diversos espaços que foram exclusivos dos homens durante séculos. Em 2007, segundo dados do IBGE, as mulheres eram responsáveis por 18,5 milhões de lares brasileiros, ocupavam 57,5% das vagas no ensino superior brasileiro e avançavam no mercado de trabalho. A mulher dessa década supõe ter alcançado todos os direitos, superado as desigualdades e, consequentemente, julga que não há mais relevância no feminismo.
No entanto, a mulher brasileira normalmente não se identifica como tal, não percebe que é diferente da figura iluminista do homem universal e não consegue delinear sua identidade feminina, seu espaço na política, sua voz e sua atitude. Mistura-se com os outros e não reconhece sua subjetividade, mantém inconscientemente o conservadorismo dos valores que a subjugam e, contraditoriamente, torna-se a maior defensora do poder que a faz vítima. Não há espaço para a autonomia feminina enquanto a mulher não conseguir retirar o véu da ignorância que oculta e manipula seu real papel na sociedade feita pelos homens e para os homens. A mulher precisa ser protagonista de sua própria história e não mais o elemento secundário, da sombra que segue e sustenta o poder masculino. Somos “a outra” da história protagonizada pelos homens e procuramos em vão nos adequar a sociedade deles, sem questionar qual é o espaço que queremos, qual é o modelo de sociedade que responde as nossas demandas. Somos diferentes dos homens e não queremos ter nossos direitos subjugados pelo ideal masculino do direito e da sociedade.
Ser protagonistas de nossas histórias significa contribuir para a construção de uma sociedade que carrega o símbolo do feminino, mais fraterna, sensível e atenta aos outros e as outras. Ao lado dos homens, das crianças, dos idosos e idosas, é possível refletir e lutar por um mundo de inclusão, onde pensar e ser diferente não implica em exclusão, mas emerge do direito à alteridade, a ser respeitada e reconhecida nas suas diferenças